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CTC busca elevar escala de etanol celulósico

A produção do chamado etanol de segunda geração deve sair da escala experimental e partir finalmente para volumes maiores.

Um líquido escurecido, corpulento que muito se assemelha a uma rapadura derretida. Esse é o resultado do último estágio do processo de produção do etanol celulósico, cuja tecnologia, em escala-piloto, já é de domínio do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), um dos maiores institutos de pesquisa em cana-de-açúcar do mundo.

Agora, a produção do chamado etanol de segunda geração deve sair da escala experimental e partir finalmente para volumes maiores, diz o pesquisador do CTC Jaime Finguerut, idealizador do projeto. Para cumprir a empreitada em um espaço mais curto de tempo, o CTC busca captar R$ 250 milhões no BNDES em um pacote de pesquisas que envolve mais 20 projetos. Se conseguir o recurso, será a primeira captação do CTC desde que se tornou uma empresa, em janeiro.

Até essa fase da produção, a tecnologia do etanol de celulose está dominada, diz Tadeu Andrade, diretor de pesquisa do centro. O desafio agora é reduzir o custo de produção, dos atuais R$ 1,20 a R$ 1,30 por litro, para os mesmos patamares do etanol convencional, na casa dos R$ 0,90. “E partir para a escala industrial será decisivo no cumprimento dessa meta”, diz Andrade. Se a engenharia do projeto começar neste ano, a montagem dos equipamentos em uma usina poderá ser feita em 2012 e o início da operação, em 2013.

O caldo escurecido descrito inicialmente, último estágio do processo de segunda geração, é chamado de “caldo hidrolisado”, e é ele que vai ser misturado ao caldo de cana de uma usina convencional, explica Finguerut, idealizador do projeto de etanol celulósico desde a década de 80. Basicamente, esse caldo hidrolisado é resultado de dois processos aparentemente simples.

O primeiro é a “explosão” do bagaço de cana para que a celulose “escondida” fique exposta, semelhante ao que ocorre quando estouramos pipoca na panela, compara Andrade, que mostra o projeto junto com Finguerut. Esse processo ocorre dentro de uma espécie de panela de pressão, onde temperatura e pressão específicas, mantidas sob segredo, fazem a celulose emergir do bagaço.

O segundo processo consiste em colocar essa celulose (um farelo escuro de cheiro adocicado) dentro de um misturador. Essa máquina cria ambiente propício para que as enzimas, então adicionadas, quebrem a celulose revelando os açúcares contidos no bagaço.

Aqui encerra-se a fase “segunda geração”. Para a produção do etanol, esse caldo escurecido só precisa ser incorporado ao caldo convencional de cana-de-açúcar entrando assim no sistema tradicional de produção, já velho conhecido das usinas sucroalcooleiras do país. “Um dos diferenciais desse projeto, em comparação com o dos concorrentes, é que não precisamos construir uma outra usina de etanol (celulósico) ao lado de uma convencional já existente. Basta que integremos esses equipamentos da segunda geração”, diz Finguerut.

A rota usada pelo CTC é que a utiliza enzimas para quebrar a celulose da fibra. A tecnologia é a mesma que outros centros de pesquisa no mundo estão aplicando, com algumas variações. O diferencial, diz Finguerut, está na qualidade das enzimas – o projeto é feito em parceria com a Novozymes, uma das maiores produtoras de enzimas do mundo. Outros diferenciais estão na temperatura e pressão usadas na exposição da celulose.

Confiante de que sairá na frente na briga pelo primeiro etanol celulósico economicamente viável, o CTC pleiteia 25% de uma linha de R$ 1 bilhão do BNDES, batizada de Plano de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico (PAISS) em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O recurso é expressivo, já que o orçamento total do CTC neste ano é de R$ 80 milhões. “Conseguiremos acelerar os resultados com o financiamento”, diz Luís Roberto Pogetti, presidente do conselho de administração do centro. Outras 55 empresas concorrem com o CTC pelos recursos do PAISS, cuja seleção será feita até 17 de agosto, segundo o BNDES.

Para se tornar uma tecnologia “real”, essa unidade de etanol celulósico projetada pelo CTC precisa ser acoplada a uma usina de etanol convencional já existente. A empreitada deve demandar R$ 50 milhões, orçamento já incluso na demanda entregue ao BNDES. Alguns grupos sucroalcooleiros se candidataram a receber a infraestrutura, mas o CTC ainda está definindo critérios de participação que deve, incluir, por exemplo, a aceitação de condições excepcionais, como parada da fábrica durante a safra para ajustes.

O pacote do CTC entregue ao PAISS engloba ainda pesquisas nas áreas agrícola e industrial. Entre elas está a pesquisa para ampliar dos atuais 12% a 14% para 30% a quantidade de fibra na cana por meio de biotecnologia. Ainda, na linha da 2ª geração, o CTC quer avançar em seu projeto de gaseificação, ou seja, produção de tudo o que se fabrica com petróleo a partir do gás da queima do bagaço.

Estudos visam obter avanços em álcool de primeira geração – A despeito da busca incessante por um etanol celulósico viável economicamente, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) continua as pesquisas para obter avanços no processo industrial da primeira geração, isto é, do etanol à base do caldo tradicional da cana.

Já está em fase final de testes a tecnologia que promete reduzir em até quatro vezes o volume de vinhaça, líquido que é residual no processo de fabricação do etanol e que é usado para irrigar canaviais. A outra boa notícia é que a mesma tecnologia também garante uma capacidade de produção três vezes maior do biocombustível no mesmo tanque de fermentação.

O autor do projeto, o pesquisador Daniel Atala, do CTC, explica que se trata de uma turbina, que acoplada ao tanque de fermentação, suga o etanol na medida em que o mesmo atinge o nível de 50% de teor alcoólico. Dessa forma, assim que o etanol é retirado, seu nível alcoólico deixa de inibir o trabalho das leveduras, que retomam o processo de fermentação de outro lote do biocombustível. “Assim, um tanque de 300 mil litros consegue produzir 1 milhão de litros no mesmo tempo, ou seja, dentro de oito a nove horas. É como se você multiplicasse por três o tamanho do tanque”, explica Atala.

Com essa otimização do processo, a produção de vinhaça passa a ser concentrada. “Nos processos atuais, temos um caminhão de etanol para cada 10 a 12 caminhões de vinhaça. Com essa turbina, teremos apenas três caminhões de vinhaça para cada um de etanol”. Testes indicam, diz Atala, que será possível melhorar o indicador para um ou dois caminhões de vinhaça para cada um de etanol.

(Valor Econômico)

Fonte: Jornal Econômico

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